sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Texto II

REFLEXÕES SOBRE O TEMPO NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
Sandra Regina Medeiros Romansini - Setembro 2009

Penso que você leitor em pelo menos algum momento de sua vida já teve a sensação de não ter tempo suficiente para fazer tudo o que deseja. É como se de repente o dia não tivesse mais 24 horas. Tem-se a impressão de que a hora, a semana, o mês e até os anos passam mais rápido do que quando éramos crianças. Tal sensação, no entanto, não é compartilhada por um nativo que mora numa ilha da Polinésia, por exemplo. Para o índio Tuavi, que esteve por anos viajando pela Europa a sociedade européia e sua relação com o tempo é equivocada. Tuavi diz em seus depoimentos que o papalagui (homem branco) diz muita tolice sobre o tempo. Afinal não existe mais tempo do que aquele que vai do nascer ao pôr do sol. Mas porque tantas discussões acerca do tempo? Qual a razão da importância do tempo nos dias atuais especialmente na sociedade ocidental?
Ocorre-me neste momento, no intuito de responder minha própria indagação, a imagem dos espanhóis se instalando na América Central, se adonando do território, submetendo a cultura nativa à cultura européia. Estou falando precisamente de dois gestos aparentemente inocentes, mas, que fez toda a diferença no modo de vida de quem habitava estas terras, a construção da Igreja e a colocação do sino. A igreja para “catequizar, amansar”, fazer o povo nativo submeter-se aos interesses do colonizador. O sino também fazia parte deste arcabouço de novas tecnologias trazidas pelos europeus no sentido da colonização. O badalar do sino indicava à hora do trabalho. Lembrem que o indígena trabalhava apenas para a sobrevivência, já o homem branco além da sobrevivência, tem por política o acúmulo de bens.
É exatamente pela vontade de acumular que o tempo passou a ser muito importante para os ocidentais, sobretudo após a Revolução Industrial do século XVIII. Daí a expressão “time is money”, isto é, tempo é dinheiro. Cada momento que se tem deve ser usado para produzir bens. E vem então a “culpa” judaico cristã, se estou sem fazer nada estou pecando. Aliás, era comum há tempos atrás se aliar o trabalho a Deus e o ócio ao diabo. Quem não lembra da célebre frase: ganharás o pão com o suor do teu rosto? Era a religião criando uma moral do trabalho, auxiliando as elites dominantes no papel da sedução dos fiéis à idéia do enriquecimento através do trabalho, o que nem sempre é verdadeiro. Afinal quanto nossos avós, pais e mesmo nós trabalhamos e não enriquecemos? E vem ainda outro questionamento, precisamos enriquecer? Por que o indio Tuavi se relaciona de forma diferente de nós com o tempo?

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